sábado, 3 de julho de 2010
terça-feira, 29 de junho de 2010
Um minuto de silêncio em português
O luto por Saramago persiste em mim por desmomentos em que tudo silencia e num soluço dolorido como que atravessado num segundo de tristeza resmunga que sua produção intelectual ainda estava ativa e rendendo pérolas inestimáveis A obra é finda diria meu velho professor que apresentou-me o escritor português há muito dizendo Essas linhas vêm direto do pensamento e eu Só dá pra respirar a cada três páginas e ao me lembrar deste diálogo consolo-me do peso da morte de um escritor que tanto admiro com o adocicado sentimento de que o velho português já havia feito muito pela vida dele e pela minha e pela de tantos garimpeiros de suas jóias literárias.
O exagero é devidamente condenado, e a ausência repudiada. Mas como encontrar o meio sem conhecer os extremos?
quinta-feira, 17 de junho de 2010
investidas curtas
Com palavras também agimos. Ou deixamos de agir.
As palavras mais perigosas sempre estiveram nas bocas mais ingênuas.
Muita profundeza exige muito silêncio.
Os decapitados ainda reivindicam o trono.
Quanta razão é necessária para que a ignorância sucumba? E quanta ignorância determinaria o fim da razão? É muito mais provável que a ignorância prevaleça, pensar não é necessário à vida. A razão não é a regra, a razão é tão excepcional que mal podemos apontá-la na única espécie conhecida que reivindica possuí-la.
Travestir impulsos químicos em palavras não é racionalizar, é iludir-se: qualquer sentimento é justificável.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
terça-feira, 15 de junho de 2010
entre biólogos e tendenciosos
A evolução continua agindo. Mas o que é evolução? É equivocada a conotação "positiva" do termo em que fica implícita a idéia de melhora. Somos resultado do acaso e da pressão do meio, sem qualquer tendência natural que não seja a da multiplicação e auto-preservação.
E a especiação continua selecionando: que espécie será herdeira da aventura humana? Que tipo humano terá prevalecido depois de passado um bom tempo a partir de agora? Não deveríamos escolher os exemplares que queremos perpetuar?
Ora, somente queremos perpetuar a nós mesmos! Fundamento do darwinismo.
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segunda-feira, 14 de junho de 2010
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A lutar um soldado não pode pensar. Essa ideologia ultrapassa o limite do fronte e doutrina massas.
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É penoso ter consciência da própria miséria. Neste ponto devo ceder ao ditado popular: "A ignorância é uma bênção"
domingo, 13 de junho de 2010
As considerações que nos restam enquanto não decidimos a direção do próximo passo...
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Todos os comentários que comparam passado, presente e futuro são embotados de uma perspectiva, ora nostálgica e pessimista, ora arrogante e pretensiosa. Não estamos em nenhuma subida. E nem numa descida. Estamos em uma montanha russa.
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Diferente da memória e da comunicação, a inteligência não é propriedade de toda matéria. Aliás, é uma propriedade rara mesmo entre os homens.
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PARA LEMBRAR:
A sabedoria é a recompensa mais sedutora. Prometa-a àqueles que desejares persuadir.
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sexta-feira, 11 de junho de 2010
Quanta realidade nos escapa? Quanto dela ainda podemos apreender?
Personificamos, ou, substantivamos muitas ações. Assim, não nos damos conta mas, imputamos uma materialidade, embutimos uma existência concreta aos movimentos. Esta generalização é constituinte da interpretação humana, a lâmina da classificação, da nomeação, incide com violência e então não somos mais capazes de perceber que dividimos aquilo que era somente um.
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A realidade é bem diferente daquilo que vemos. Mas isso não é motivo para achar que tudo o que vemos é ilusão.
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Embora não seja possível a observação imparcial, sua busca é frutífera.
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quarta-feira, 9 de junho de 2010
Ruminar é preciso!
Almejamos aquilo que não temos.
A vontade de sermos bons demonstra que somos irremediavelmente maus.
terça-feira, 8 de junho de 2010
O mal é necessário.
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A dor é o contraste, a motriz para a busca do prazer.
Movimentamo-nos somente pelo desconforto.
domingo, 6 de junho de 2010
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Não é pelo absurdo da promessa edênica que precisamos desconstruí-la; não é pelo limite raso do conceito paradisíaco que devemos abandoná-lo; não é somente por constituir-se apenas de alucinação que carecemos de desapego aos céus. É pelo seu aspecto venenoso, pelo perigo que traz consigo que devemos nos afastar desta idéia.
quinta-feira, 3 de junho de 2010
enunciar é fazer política
a respeito de Sócrates
um perigo para os românticos
rápidas para alongar
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Será noite ainda depois de amanhã?
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Apenas a quem gostamos não estamos inclinados a praticar nenhum mal. Pela mesma lógica, apenas confiamos em quem demonstra gostar de nós.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
terça-feira, 1 de junho de 2010
contra o argumento de que voltaremos para o lugar de onde viemos
palavras para culpar
bifurcados
domingo, 30 de maio de 2010
Resta-nos o instante e a vontade...
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Afirmar inclusive o que nos desgosta é tarefa para monges.
sábado, 29 de maio de 2010
Elogio da vaidade
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A modéstia é hipocrisia, uma vaidade que supõe o inferior como melhor, e assim deseja-se ser visto como inferior. A modéstia também é vaidade, mas carregada de efeito moral.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
em tempos de fabricação industrial humana e destruição em massa...
Assim, toda promessa da ilustração, a promessa da ciência como boa luz para nos guiar, pode terminar por nos custar a própria existência.
Talvez a ciência seja um perigo para a espécie, assim como a metafísica platônica é um perigo para cada indivíduo.
Isso porque o modelo sempre quer substituir o modelado; a explicação deseja tomar o lugar daquilo que se explica; o nome quer ser o próprio nomeado.
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APENAS DO MEU LABOR POSSO VALER-ME.
O trabalho aprisiona. Mas em algumas circunstâncias, uma prisão razoavelmente confortável é mais desejada que a liberdade dura e fria, em que temos que literalmente lutar pela sobrevivência.
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Imitamo-nos porque a genuina originalidade infere absoluta imotivação e,se tal fosse possível, nos acometeria de tamanha perplexidade que cada movimento tornaria-se muito mais difícil. A vida fica muito mais difícil em um (im)possível estado de total liberdade.
quinta-feira, 27 de maio de 2010
anti-socráticas
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Eu gostaria que Aristófanes tivesse sido mais eficaz. Mas não há motivo para querer atrasar o sol: o decorrer do dia, e da sombra portanto, é inevitável.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
frágeis edifícios
É mais fácil derrubar um prédio do que erguê-lo.
Não devemos habitar o alto de um edifício que pode ser facilmente derrubado.
Por isso, ao edificar, é prudente que se tente derrubar a construção a cada degrau galgado.
A inconsciência contra a dor
Pela diferença
terça-feira, 25 de maio de 2010
As verdades de hoje são as mentiras de amanhã.
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A irrefutabilidade de um argumento não o valida necessariamente.
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A particularidade humana acredita-se universal num pequeno canto do Universo.
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A ciência é lente para alguns e venda para outros: aqueles que acreditam ver algo a mais com a ciência, veda-se; aquele que sempre se incomoda com a vista embaçada dos óculos científicos, enxerga mais longe. Para ser mais direto: o saber científico somente ocorre a quem desconfia deste saber – o desconfiar é a própria ciência.
domingo, 23 de maio de 2010
a ciência alienada
sexta-feira, 21 de maio de 2010
a palavra "eu"
contra a finitude, inventamos o infinito.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
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O acaso também é capaz de espetáculos extraordinários. Apenas são raros, mas eles são possíveis.
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É confesso que a idéia de recompensa post-mortem advém de uma esperança, que guarda em si a presunção de considerarmo-nos merecedores de algo, de algum prêmio, já que suportamos a vida tão amistosamente... A idéia de eternidade é conseqüência da nossa insatisfação para com a vida.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Ao escolher os dominadores, consentimos a dominação.
O exercício da força somente é repreendido se considerado injusto. Parecendo justa, toda violência é aceita.
domingo, 16 de maio de 2010
A sabedoria é a recompensa mais sedutora. Prometa-a àqueles que desejares persuadir.
A obviedade, muitas vezes, é justamente aquilo que ninguém percebe.
Agora que sabemos que o remédio disponível é placebo?
Agora que não podemos acreditar em nenhuma promessa,
Agora que refutamos a salvação pela vida abstêmia,
Agora que nenhum sonho pode significar realidade,
Agora que a justiça teve sua máscara quebrada
Agora que nos tornamos imunes ao torpor e a hipnose das palavras sempre dúbias...
Como atravessar esse fio tênue
Conscientes do abismo sob nossos pés?
A arte? A filosofia? A felicidade?
O que ainda poderá servir de motriz neste vácuo?
O que ainda poderá servir de pernas nesse solo tão movediço?
O que servirá de bússola nesse horizonte sem norte?
sábado, 15 de maio de 2010
A postura discursiva que um sujeito adota diante das diversas ocasiões determina inclusive seu humor. E também seu pulso cardíaco, pressão arterial, grau de sudorese e até mesmo a velocidade de digestão. Entretanto, o que é mais agressivamente afetado por algumas posturas discursivas é a inteligência do indivíduo.
os loucos e os sóbrios
Dos problemas ocupam-se os sóbrios. Estes encontram no que há de feio e triste o motivo de suas artes. E procuram acentuar bastante a penúria em que vivem, a ponto de apagar qualquer beleza que possa haver a seu redor.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
A dor é a primeira moeda. O dinheiro foi uma sublimação do exercício da força (e da dor, portanto).
A INTENÇÃO DE VERDADE NÃO ESTÁ CONDENADA PELA SUA IMPOSSIBILIDADE...
...e não é porque a verdade não é possível, que a mentira também não é. Quem poderia afirmar que um mero fundo de realidade psíquica valida uma mentira, acreditaria facilmente em fadas e duendes. Mas a mentira também não é a única possibilidade, como a lógica da oposição poderia nos fazer concluir. Eis aí uma questão de meio-termo.
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Ao colher flores, é comum que um espinho nos espete o dedo.
Assim como é comum espetar-se com uma mentira quando se tenta apanhar a verdade.
Refutar uma teoria depende da refutação de apenas uma de suas muitas afirmações. É mais fácil derrubar um prédio do que erguê-lo. Não devemos habitar o alto de um edifício que pode ser facilmente derrubado. Por isso, ao edificar, é prudente que se tente derrubar a construção a cada degrau galgado. Mas quem edifica geralmente é patologicamente incapaz de derrubar o tijolo recém assentado.
Não basta que uma teoria seja refutada. Ela precisa ser desprestigiada para que surja em seu lugar alguma nova idéia, que demorará muito até que, enfim, caia em desprestígio também. Aí então, se a primeira teoria não tiver alta rejeição, torna-se a principal candidata a corresponder à verdade novamente.
A hipertrofia de um órgão pode ser patológica, mesmo porque, na maioria dos casos, advém de um vício. Mas ainda assim, mesmo resultantes do vício, a hipertrofia tem seu valor. Isto é, mesmo que custe um empenho doentio, que cobre de seu possuidor uma devoção maléfica, o resultado de tanto foco é um órgão notoriamente privilegiado e desejado, portanto.
A hipotrofia das partes não exercitadas é que não tem qualquer valor, ainda que resulte de uma virtude. Um cérebro forte geralmente é carregado por um corpo debilitado, com músculos que lhe parecem fracos demais, indesejável e repudiado por todos.
É o resultado do tempo, do foco e da proporcionalidade.
Não tente salvar-se com palavras: agarrar-se à nuvem não é possível. Sócrates foi condenado! Um exemplo incontestável.
Sentimentos também não salvam. Quando muito anestesiam. Mesmo Jesus foi condenado: um exemplo insuperável!
Apenas a ação pode salvar! Mas agir é justamente a privação moral, a fraqueza, a covardia dos homens modernos.